quarta-feira, 14 de julho de 2010

"(...) Podemos demorar muitos anos até conseguir passar por cima das coisas sem mágoa. Primeiro vem o esforço, depois o falso esquecimento. Seguem-se o rancor, a revolta, a sensação de impotência. Tantas vezes nos atiramos para os braços de outro homem, pensando que esse é o caminho mais curto para esquecer alguém, e tantas vezes esse é o caminho que se revela mais longo! (...) Há mesmo um dia, meu querido, em que chega a libertação, dia D do coração. Nunca é quando queremos, apenas e só quando estamos preparados. Quantas e quantas vezes as pessoas usam o verbo conseguir de forma errada! Quando eu dizia que não te conseguia esquecer, a verdade é que não queria esquecer-te. Tu alimentaste a minha inspiração durante demasiado tempo e nada é mais dificil de uma pessoa se libertar do que um hábito que lhe traz benefícios.
Querer e conseguir não são o mesmo; só consegues quando queres, o contrário não é possivel. Escrevo para me ler e para me ouvir, porque também preciso das minhas palavras. Preciso que elas me alimentem sem que ao mesmo tempo me matem. Palavras de alento e de esperança, agora com os pés na terra, em vez de voar como um pássaro atrás de quimeras. Quantas vezes os oásis mais desejados não passam de miragens!
O amor é outra coisa. Constrói-se do chão, levantanto pedra atrás de pedra, como se de penas se tratasse. Sem medo, com calma, sem esforço, apenas com vontade. Dando espaço e tempo, dando a mão. O amor é um caminho a dois. Caminante no hay camino, el camino se hace al andar. E a grandeza de um homem está em ser uma ponte, não uma meta, e ninguém consegue construir uma ponte sozinho. O amor é uma construção. Não sei se algum dia saberás o que é. Eu estou aprender. Aprendi muito neste último ano em que descobri que era mais feliz se vivesse o amor plenamente.
Deseja-me boa sorte, porque quero e mereço. E a ti, desejo-te a paz possivel de uma existência subtraída, e o desejo de que um dia encontres o teu fio que te conduza à saída do labirinto. A gratidão não é mais do que a alegria de tudo o que existe ou existiu, por oposto à angústia, que é a tristeza por tudo o que não existe ou nunca existiu. Espero que a gratidão te guie e te ilumine com a mesma força com que me tem conduzido(...)"

Margarida Rebelo Pinto

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