Beijam-se, querem-se, fazem amor. O dia acabou, o quarto caiu na penumbra, estão abraçados, felizes, e decidem que vão ficar juntos, aconteça o que acontecer.
Mas dois meses mais tarde ela diz-lhe:
ela -Acabou. Vou-me embora, não é isto que eu quero.
ele - O que é que tu queres? (pergunta-lhe ele com a respiração suspensa)
ela -Uma vida normal, sem segredos.
Imóveis, frente a frente na rua, no meio do passeio, ligados pelas mãos, olhos nos olhos.
ele - Não me amas?
ela - Eu quero-te, mas é demasiado complicado. E tu és só para as coisas boas.
ele - As coisas boas não valem muito. As coisas más é que contam.
ela - Estou triste. Se fosse uma situação diferente... quem sabe? Talvez um dia.
ele - Não há um dia, só há agora, ficas ao meu lado nos momentos dificeis e eu faço o mesmo por ti, é isso o amor.
ela - Mas eu não posso, não consigo. Não me odeies, peço-te!
ele - Não te odeio.
Ele compreende que chegou a altura de a deixar ir, larga-lhe as mãos, separam-se, ela recua alguns passos, gente de passagem atravessa entre eles.
ele - Adeus (murmura sem palavras)
ela - Adeus (responde ela igualmente sem palavras)
Ela volta-se e parte, misturando-se entre a multidão. Ele acende um cigarro e fica a vê-la afastar-se. Fica ali até a perder de vista. Atira fora o cigarro e, quando começa a andar no sentido contrário, sente-se gelado até à alma.
(Tiago Rebelo)
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